A cinesioterapia, como recurso fisioterapêutico, constitui uma ajuda valiosa e indispensável na reabilitação de pacientes com paralisia facial, independente da sua etiologia e do tratamento médico ou cirúrgico. Nas diversas fases de evolução: flácida, de recuperação parcial ou de seqüelas (hipertonias e sincinesias), a fisioterapia dispõe de recursos para intervir com o objetivo principal de restabelecer a função e o trofismo muscular.
A avaliação criteriosa destes pacientes é fundamental para a elaboração de um programa de tratamento a partir dos problemas e disfunções observados. O conhecimento detalhado da história clínica, a análise dos exames realizados (eletromiografia), o exame de tônus muscular de toda a musculatura facial, testes de sensibilidade e de coordenação são subsídios que permitem um tratamento adaptado e personalizado em função dos “déficits” e da capacidade do paciente para controlar seus músculos.
Através da observação de uma fotografia anterior à paralisia, pode ser observado o lado dominante (através das linhas de convergência) e alguma malformação já existente (nariz, mandíbula,etc). A paralisia facial localizada no lado dominante tende a uma recuperação mais fácil, porém com maior possibilidade de ocorrerem hipertonias e sincinesias. As fotografias também constituem um recurso útil para confirmar a evolução destes pacientes, já que muitos esquecem a intensidade da afecção primitiva e, às vezes, duvidam da recuperação.
Para a avaliação da função muscular, recomenda-se a anulação do lado são para que os músculos do lado afetado assumam uma posição neutra ou encurtada, favorecendo assim a união da actina e miosina ao menor impulso nervoso. Os movimentos devem ser realizados de forma lenta e pode-se associar técnicas de estiramento durante a sua execução, o que favorece o máximo recrutamento de fibras musculares.
Os principais procedimentos utilizados no tratamento fisioterapêutico da paralisia facial consistem em massoterapia de relaxamento na hemiface não comprometida, massoterapia de estimulação na hemiface paralisada, crioterapia e cinesioterapia.
A cinesioterapia constitui-se de exercícios de mímica facial e reeducação da musculatura facial através de “biofeedback” eletromiográfico com eletrodos de superfície. Quando ocorre a retomada do fluxo nervoso aos músculos, a reabilitação não pode ser global ou forçada, para evitar o trabalho predominante dos músculos mais fortes. O trabalho, a princípio, deve ser realizado em forma de esboço para que, mais tarde, todos os elementos musculares se reintegrem em uma mímica global e harmoniosa (Chevalier, 1990 c). Durante os exercícios deve se procurar o equilíbrio entre os músculos agonistas e antagonistas e, para isto, pode ser utilizada a pressão digital, a qual favorece a dissociação dos movimentos de boca/olhos, ou seja, da parte inferior e superior da face. Os movimentos de contração sinérgica devem ser inibidos e, se aparecem movimentos anárquicos, os músculos responsáveis devem ser mantidos em posição de estiramento para inibi-los. As sincinesias ocorrem quando não são tomadas estas precauções.
A sincinesia do nervo facial é uma seqüela extremamente angustiante e é atribuída à hiperexcitabilidade nuclear facial ou à regeneração aberrante das fibras nervosas (Moran, 1996). A completa recuperação da paralisia facial é, freqüentemente, impedida pela sincinesia. O uso do “biofeedback” eletromiográfico, visando a produção de movimentos mais finos e selecionados, pode minimizar a sincinesia. Bottomley in Davis (1997) cita alguns trabalhos que comprovam a rápida recuperação da simetria e a redução da sincinesia com “biofeedback” em pacientes com paralisia facial. Brach (1997) verificou redução da sincinesia fronte-oral e ocular-oral com o treinamento assistido de “biofeedback” eletromiográfico.
Tanto o uso do calor como da crioterapia são indicados como recursos terapêuticos na paralisia facial. A crioterapia tem como principal objetivo a estimulação de pontos motores para a obtenção da contração muscular, na fase flácida da paralisia em um período de aproximadamente 15 minutos (Martins, 1994 a). Por outro lado, o calor aplicado através de lâmpada infra-vermelho ou bolsas quentes proporciona o relaxamento muscular na fase de hipertonia.
O objetivo da massoterapia é a redução do edema (através de técnicas de drenagem linfática), pela sua ação sobre a circulação na fase flácida e o relaxamento muscular na fase de hipertonia com ênfase nos pontos dolorosos. A massagem deve abranger as duas hemifaces, sendo que as manobras de deslizamento superficial e profundo são realizadas no sentido centrífugo na hemiface paralisada e centrípeto na hemiface normal (Martins, 1994 b). A massagem endobucal também é recomendada com a finalidade de produzir o estiramento da musculatura intrabucal hipertônica. Deve-se salientar a importância da correta aplicação da massagem, pois caso contrário, a mesma pode desencadear reações reflexas de defesa com piora das retrações musculares.
A eletroterapia tem sido responsável por um aumento de tetanias e hipertonias que, por sua vez, desencadeiam sincinesias. Esta modalidade tem sido abandonada em substituição ao trabalho muscular analítico e técnicas de alongamento muscular (Chevalier,1990 d). O uso da corrente galvânica, referido em alguns estudos, visa acelerar o retorno da contração muscular. A estimulação elétrica de alta voltagem utilizada em dois casos estudados por Shrode (1993), apresentou resultados benéficos e o autor indica a técnica em estágios precoces para acelerar o progresso da função muscular normal. Nestes casos, a manipulação da coluna cervical para liberação de múltiplas fixações foi associada à eletroterapia com corrente galvânica.
Na fase flácida, Chevalier (1990 e) sugere a aplicação de fitas adesivas ou esparadrapo antialérgico para permitir uma melhor oclusão do olho e combater ou aliviar a ectropia.
A reabilitação facial pode ser longa e, ainda assim, ficará um déficit de 20%, devido a motricidade reflexa sobre a qual o paciente não pode intervir (bocejar, piscar, gargalhada). Além disso, para os hemispasmos faciais, não existe tratamento cinesioterápico, a não ser o relaxamento geral, pois o mesmo está relacionado a fatores psíquicos.
Espero que você tenha gostado do texto.
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